Entrevista* ao jornalista Zema Ribeiro
|
9 de fev. de 2013
Texto original em: Zema Ribeiro
* Texto do Jornalista Zema Ribeiro
“Eu cheguei sem ninguém
saber que eu vinha”. Desde antes de nascer Alexandra Nicolas já era uma
surpresa. Filha de mãe solteira, foi cúmplice da genitora, que escondeu a
gravidez enquanto pode. O pai, músico e boêmio, ela só viria a conhecer
aos cinco anos de idade. Foi criada por três mulheres – a mãe, a tia e a
avó.
Sua mãe gostava de cantar e foi em uma tertúlia que seus pais se
conheceram. Desde cedo a menina pegou gosto pela coisa. “Eu cantava desde
criancinha. E eu não podia sair das rodas, que eles me chamavam: “agora é
a vez da menina!”. E eu me lembro, muito nova, de cantar músicas de Nelson Gonçalves,
Silvio Cesar, Elizete Cardoso, Clara Nunes, Rita Lee, Novos Baianos, Genival
Lacerda, Elba Ramalho”, cita entre gostos passageiros e referências que
permanecem até hoje.
Acreditando nos sonhos, a adolescente Alexandra chegou a largar
o curso de Pedagogia e foi ao Rio de Janeiro estudar canto, dança e
teatro. Sua mãe hospedou-a num pensionato, à época inviabilizando a
carreira: “Todos os lugares em que eu podia cantar eram à noite e eu tinha
que voltar para casa antes da meia noite”, lembra a cinderela de então.
Do pensionato para a
música? Nem pensar! Alexandra só pode mudar-se para um apartamento quando
passou no vestibular para Fonoaudiologia, profissão em que se formou e exerceu
por pouco mais de 10 anos – a música sempre em paralelo, nunca de menor
importância, a vida entre o consultório e os palcos. Após coordenar o
curso de fonoaudiologia em uma faculdade particular em São Luís, ela
deixou a profissão. Da música, afastou-se apenas para dedicar-se às
primeiras infâncias de seu casal de filhos, hoje com sete e seis anos. Uma
parada apenas temporária, embora ela não viva, ainda hoje, exclusivamente
de música.
“Tudo o que fiz até
hoje foi por necessidade, por amor, por que eu não consigo fazer nada
que eu não pense em fazer bem feito”, diz, talvez explicando a demora em
gravar o primeiro disco, Festejos. Mas nada
na vida de Alexandra acontece por acaso. “Eu já gostava muito do Paulo
César Pinheiro, principalmente suas parcerias com Mauro Duarte, Sivuca,
João Nogueira. Vinha de alguns shows por aqui e estava com a ideia de
fazer um em homenagem a Clara Nunes. Numa viagem ao Rio, meu amigo Celson
Mendes mandou um e-mail para Luciana Rabello. Segundo ele, ela poderia me
dar algumas dicas. De início não acreditei muito que ela fosse responder.
Ela respondeu e me convidou para ver e ouvir o bandão da Escola Portátil.
Algo incrível! Todos os alunos da Escola Portátil, 40 pandeiros, 15
cavaquinhos, 10 flautas etc., juntas, sob uma árvore, tocando ao mesmo tempo
com [o baterista] Bolão de maestro”. Terminada a
apresentação, Luciana levou-a para tomar um chopp na Visconde de
Caravelas, em Botafogo. Era a rua em que ela tinha morado, e Amélia
Rabello, irmã de Luciana, morava no mesmo apartamento que Alexandra ocupou
em seus dias e noites cariocas. Sem saber, a anfitriã acabou escolhendo
ainda a mesma mesa em que a maranhense costumava sentar vindo da
faculdade.
Nada na vida de
Alexandra acontece por acaso. “Então você quer homenagear a Clara
Nunes? Mas você gosta da cantora ou do compositor?”, indagou Luciana
Rabello ao notar que nove das 16 músicas do roteiro eram de Paulo César
Pinheiro. “Eu tenho certeza que Clara Nunes ia adorar este show se você
pudesse transcender isso. Você precisa se mostrar como artista, sair
de detrás dela. Eu recebo 80 e-mails por dia de gente querendo homenagear
Clara”, aconselhou-a. “Paulinho [forma carinhosa como se referem
ao compositor maiúsculo] tem mais de 2.000 canções. Se quiser
eu te dou tudo inédito”, ofereceu.
Luciana Rabello
acabou por descobrir a voz autoral de Alexandra Nicolas, mesmo esta
não sendo compositora, e assumiu a função de diretora musical deFestejos.
Mais que isso, se tornou amiga íntima, uma irmã querida e escolhida. “Ela
foi uma bênção de Deus na minha vida”, diz a maranhense.
Tudo começou em Senhora das Candeias,
show que ela apresentou duas vezes no Teatro Arthur Azevedo, em São Luís,
e que batiza o projeto patrocinado pela Eletrobrás, através da Lei
Rouanet de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, que permitiu a
feitura de Festejos,
que sai pela Acari Records, a maior gravadora de choro no Brasil. Inicialmente
ela recebeu uma fita com 20 composições de Paulo César Pinheiro: era o
repertório do espetáculo. Para o disco, a amostra aumentou para quase 60
músicas, das quais 13 foram escolhidas, entre inéditas – a maioria – e
regravações.
“Eu quero essas
mulheres da festa!”, escolheu. “Todas as que Paulinho canta, elas são
fascinantes, lindas e sensuais. É um amor puro! Elas possuem uma beleza
que ninguém consegue ver. Quase ninguém consegue ver a beleza de uma
lavadeira. Aí eu vi a verdade. Não era fantasia. Era palpável”. Alexandra
começava a eleger o repertório de seu disco. Entre idas e vindas
foram quase dois anos só na seleção do repertório, mergulhada de cabeça,
corpo e alma.
“Paulo César
Pinheiro é a pessoa mais leve que eu já vi na vida. Não sei de onde tira
tanta simplicidade. Nem parece que existe, me deu o maior presente. Ele me
deu a bênção e disse: “se você tiver que gravar um disco, quero que você
grave aqui [no Rio de Janeiro].
Foi a partir daí que eu descobri verdadeiramente meu caminho”.
A partir de então, muitas idas e vindas na ponte aérea São Luís – Rio de Janeiro. Com ela festejam Adelson Viana (sanfona), Celsinho Silva (percussão), Dirceu Leite (flauta, picolo), Durval Pereira (percussão), João Lyra (arranjos, violão, viola), Julião Pinheiro (violão sete cordas), Luciana Rabello (cavaquinho e produção musical), Magno Júlio (percussão), Marcus Tadeu (percussão), Maurício Carrilho (arranjos, violão sete cordas), Paulino Dias (percussão), Pedro Amorim (bandolim) e Zé Leal (percussão).
A partir de então, muitas idas e vindas na ponte aérea São Luís – Rio de Janeiro. Com ela festejam Adelson Viana (sanfona), Celsinho Silva (percussão), Dirceu Leite (flauta, picolo), Durval Pereira (percussão), João Lyra (arranjos, violão, viola), Julião Pinheiro (violão sete cordas), Luciana Rabello (cavaquinho e produção musical), Magno Júlio (percussão), Marcus Tadeu (percussão), Maurício Carrilho (arranjos, violão sete cordas), Paulino Dias (percussão), Pedro Amorim (bandolim) e Zé Leal (percussão).
Ao final de um
processo de aprendizado, amadurecimento, risos, lágrimas e muita emoção, o
próprio Paulo César Pinheiro definiu a ordem das músicas no disco e, acima de
qualquer suspeita, escreveu sua apresentação: “acho que a maranhense
conseguiu um belo disco. Abram alas pra ela que a festa começou”, para
ficarmos com apenas um trecho.
Embalada pelo capricho do design de Raquel Noronha, a bolachinha é ilustrada por fotos de Márcio Vasconcelos, que captam Alexandra Nicolas, risonha e faceira, no sobrado em que nasceu o dramaturgo maranhense Arthur Azevedo, em 1855, uma segunda coincidência literária – a primeira é que Paulo César Pinheiro, apesar de nunca ter estado em São Luís do Maranhão, conhece-a bem a partir da obra de Josué Montello, e escreveu uma música que leva o nome da capital maranhense, faixa que fecha o disco.
Alexandra Nicolas sonha: “Eu quero fazer o Brasil cantar”. Nada na vida dela acontece por acaso.
edit
Embalada pelo capricho do design de Raquel Noronha, a bolachinha é ilustrada por fotos de Márcio Vasconcelos, que captam Alexandra Nicolas, risonha e faceira, no sobrado em que nasceu o dramaturgo maranhense Arthur Azevedo, em 1855, uma segunda coincidência literária – a primeira é que Paulo César Pinheiro, apesar de nunca ter estado em São Luís do Maranhão, conhece-a bem a partir da obra de Josué Montello, e escreveu uma música que leva o nome da capital maranhense, faixa que fecha o disco.
Alexandra Nicolas sonha: “Eu quero fazer o Brasil cantar”. Nada na vida dela acontece por acaso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário